sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Metade


Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito, mas outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada mesmo que distante
Porque metade de mim é partida, mas outra metade é saudade
Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço
E que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso, mas a outra metade é um vulcão
Que o medo da solidão se afaste e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos Suportável
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso que eu me lembre ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito
E que teu silêncio me fale cada vez mais, porque metade de mim é abrigo, mas outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia e a outra metade é canção
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é Amor e a outra metade também...

(Oswaldo Montenegro)

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